A vida é feita de oportunidades: há que saber esperar por elas, agarrá-las na devida altura e dar-lhes razão de existência. E quando esperamos compassadamente e essa oportunidade não chega? E quando o muro é demasiado alto para, mesmo com esforços desmesurados, conseguirmos passar para o outro lado? Não será a espera convertida num rasgo de desespero e um misto de raiva por travar lutas inglórias em prol de nada?
Depois de nós, sempre esperei que houvesse um eu e tu, duas metades que, não conseguindo conjugar, soubessem olhar-se, ouvir-se e entender-se, sem que para isso fosse necessário magoar.
Sabia que o caminho não seria fácil, que teria de me expor mais do que queria e de aceitar arriscar mais do que devia. Mas a verdade é que sempre almejei uma utopia.
Tu deixaste-me num estado de sítio permanente, numa revolta inconsequente que teima em corroer as minhas forças e enfraquecer qualquer réstia de esperança. Adiamentos, hesitações, ausências e dúvidas, que não passam disso mesmo, que não me levam a lado nenhum, porque não deixas, porque não permites que eu entre na tua esfera e pior que isso, não entendes como é duro desconstruir toda uma ideia de que afinal a vida não é feita de oportunidades, quando isso não depende só do nosso esforço…que pelos vistos é um antro de fardos pesados, que somos obrigados a carregar sem itinerário, numa estrada infinita com obrigações, proibições e tantos outros obstáculos que separam um encontro essencial…que me faça perceber “o porquê e o como” de não agirmos de acordo com aquilo que somos.
Não sei se é o tempo ou a vida, ou o medo, ou a falta de sorte que não deixam que possamos entender-nos. Espero que o que és não seja só uma imagem à tua semelhança que inventaste para enganar o tempo e o mundo. Quando quiseres olhar para dentro, vais ver que não é assim tão difícil perdoar. Como tudo o resto, é só querer.
Acredito que um dia vais finalmente perceber que se faço tudo isto, se te promovo a um pedestal e me subjugo até te fazer alcançar o quase-impossível é porque gosto de ti e não quero mais ver-te fora da minha vida.
A casa sente a tua falta, em todas as divisões, eu sinto a tua falta…não daquilo que é passado, porque esse está guardado num sítio bom, mas sim do presente que podemos ter enquanto duas pessoas que se conhecem bem demais para se renderem à indiferença.
Querer apagar-me é um erro e tu sabes que é.