terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

...

Tento esquecer-te. Deixei de falar de ti e de dizer o teu nome, deixei de o desenhar no espelho da casa de banho, quando o vapor inunda todas as superfícies. Em vez disso, tenho o coração embaciado de dúvidas e o olhar desfocado pelo absurdo do teu silêncio continuado, o olhar de quem aprende a adaptar-se a uma luz desconhecida, a uma nova realidade.Podemos ser o que quisermos...mas por uma fraca teimosia interna não queremos ser o que devíamos.
Frequentemente, fantasias de salvamento surgem com o pensamento. Se ele não permitir a nossa ajuda, se no seu livre-arbítrio decidir não aprender, não crescer, a relação está condenada. Talvez haja outra oportunidade noutra vida, a não ser que ele acorde tarde, mas acorde, nessa mesma. Despertares tardios também acontecem.
Não consigo olhar para dentro do meu coração sem te ver lá, mesmo que tenhas escolhido outro caminho.

Julgo que estou a tentar dizer-te que estás presente em tudo aquilo que eu sou, em tudo aquilo que eu fiz...
Aprender a gerir o amor é uma tarefa iniquiparável e reservada apenas aos audazes, àqueles que sabem abstrair.
Vais-me fazer falta, vou procurar-te em tudo o que me faça de ti lembrar...os teus bombons preferidos, o teu estilo, a tua marca de roupa favorita, os sítios onde me levaste e aqueles onde sei que gostavas de me ter levado, o café dos nossos breves pequenos almoços, as noites mal dormidas porque os lençóis não chegavam, aquilo que não contámos nem contamos a ninguém, as vezes em que deseperei e me disseste que não havia nada que não resolvesses e que ias estar sempre ao meu lado, quando eu punha a mesa e tu preparavas o jantar, aquele maravilhoso chocolate que devorávamos numa tarde...as nossas correrias entre o metro e o autocarro, aquela viagem cómica até moscavide (ficámos com tanto medo e só sabíamos rir daquilo), a tua voz e o teu jeito de falar, as tuas manias únicas, o teu suposto alzheimer precoce, o teu sorriso, os sinais, o "narizinho", as dezenas de nomes que inventámos para chamar um ao outro, só porque entre nós era diferente, os filmes que víamos antes de dormir,...as vezes em que bastava olharmos um para o outro para perceber o que ambos queríamos e nem eram necessárias as palavras para exprimir uma emoção, um desejo, uma vontade, um querer incontrolável. Fomos tão cúmplices, tão completos.
Tão somente por isto e mais, me diz, não a razão, mas o coração, que o amor não acaba assim...
Whatever love you can get and give, whatever happiness you can provide, every temporary measure of grace...whatever works (tudo pode dar certo...)

Sem comentários: