segunda-feira, 3 de março de 2008

Conta-me uma história...




gosto de histórias insolúveis, que nunca têm argumento, e se desenrolam em sobressaltos, ou deslizam docemente sem rumo. gosto de histórias breves, quando os olhos se cruzam e se enlaçam e se perdem o tempo de um solo de guitarra (portuguesa?). gosto de histórias prolongadas e funestas, bordadas de ameaças ocas e vãs promessas, que interminavelmente se dobram e desdobram num cansaço doce e demorado. gosto de histórias intempestivas e brutais, cruzadas por calmarias e temporais, e que explodem em convulsões de gritos e espantos. gosto de histórias tristes, sem lágrimas, porque nelas o pranto não liberta nem sufoca. gosto de histórias alegres, sem risos, para que não nasçam gargalhadas onde a voz sangra. gosto de histórias do corpo, onde a verdade tem mil cores e as cores dos beijos são sempre luz. gosto das histórias da alma, porque são segredos profundos como fundas são as vozes que não conseguem falar. gosto de histórias que o não são porque o tempo tropeçou e enganou corações demasiado ardentes. gosto de quase histórias, como frases suspensas ou gestos esquecidos que ninguém prendeu ou arrumou. gosto de histórias, porque podem fazer ser o que nunca é. gosto de histórias...

2 comentários:

Anónimo disse...

gostas da nossa história, da tua história, (imaginário), gostas da minha história de ilusão e da história do teu mundo porque parece sempre mais verdadeira do que a realidade ' *

Luisa Oliveira disse...

"gosto de histórias, porque podem fazer ser o que nunca é."

Gosto das histórias que tu inventas (e escreves). Gosto de te saber aí - e de, ao mesmo tempo, saber que esta história é real.

(Como disse a outra: "não és nada gaga". E eu tenho orgulho em ti).